Vão sentados no metro, no banco em frente. Entram sorridentes e de mãos dadas e sentam-se. Nota-se que são de fora mesmo antes de falarem. Na verdade não falam muito. Ele, loiro e de olhos azuis, cruza o olhar com a miúda da frente. Olha-a a de diferentes maneiras e de diversas vezes e mexe-se no banco, inquieto. Como se a qualquer momento se fosse levantar direito a ela. Mas não vai.
Ao lado, a rapariga que entrou com ele finge que não repara. Aconchega-se nele, encosta a cabeça no ombro dele e fecha os olhos. Espera. Volta a abri-los e, ao lado, nem um movimento. Vira o olhar para ele, que permanece estático, olhando na direcção da outra miúda
Volta a fechar os olhos. E quando os abre estão pejados de lágrimas que ela não quer deixar cair.
Abre e fecha. Abre e fecha. E a mesma impassividade ao lado.
Ele já não é dela há muito tempo e ela sabe-o. e sabe também que ele nunca será capaz de verbalizar o que grita nesse silêncio imóvel. E ela prefere a ilusão de o ter num recanto sossegado.
Fecha os olhos. Ele suspira resignado e finalmente apoia a cabeça na cabeça dela que pesa no seu ombro.
No banco da frente a miúda levanta-se e sai na paragem seguinte. Ele limita-se a segui-la de soslaio, sem coragem de a encarar de frente.
Sabe que acabou de se apaixonar e de deixar o momento sair pela porta.
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