sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Incondicional

Quando eu era pequena e encolhia os pés porque não gostava da areia da praia, ele dava-me a mão.
Quando havia trovoada e eu tinha medo, ele deixava-me dormir com ele.
Quando comecei a aprender a andar de bicicleta e, volta meia volta, caía, ele ajudava-me a levantar.
Quando o mundo inteiro desabou em cima de mim outra vez e voltei a sentir como o chão me fugia debaixo dos pés, ele apanhou um avião só para me vir dar um abraço.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Velhos conhecidos

Há demasiado tempo que pensava que não era para durar. Não era para ser assim. Não era para a sua vida. Tudo demasiado perfeito. As mãos dadas. Os passeios noite dentro. As mensagens que não se esperavam. Os jantares. As esperas à saída do trabalho. E a sensação de que podia ser feliz.

Olhava à volta e à volta encontrava gente que estava nisto há muito tempo. Nove anos de um lado. Dez do outro. Mais seis ali. E oito aqui. E visto de fora era uma coisa bonita. E riam-se juntos. E continuavam a sair e a dar-se bem. E abraçavam-se daquela maneira como quem se aconchega. E tinham uma vida juntos.

Havia dias em que pensava que um dia isso também havia de ser seu. Havia dias em que o desejava com todas as forças e com toda a alma. Havia dias em que desejava que isto fosse de facto para durar. Que os 3 milhões de pedacinhos nos quais se tinha partido o seu coração há uns anos começassem por fim a juntar-se. Havia dias em que tinha esperança e conseguia sorrir e acreditar.

Depois havia os outros. Em que achava que isto era uma mentira e se afastava. Em que achava que não era para ser e que o único que fazia era forçar. Por medo de que não voltasse a ser capaz. Às vezes acha que está a queimar todos os cartuchos e a última oportunidade de que alguém lhe importe de verdade. Nunca consegue apagar a sensação de vazio.Tenta preenchê-lo com os seus sorrisos, com as palhaçadas, os mimos e os abraços que fazem que desapareça para o mundo. Por 15 minutos ou uma noite. Mas não mais.

Um dia pensou que podia voltar a voar. Um dia agarrou-se com força. Um dia quis sentir que sentia e que ia voltar a rodopiar na sua mão. Quis tanto e fechou tanto os olhos num desejo profundo que achou que não ia ser capaz de abri-los.

Mas a realidade vem sempre em forma de despertador. E foi quando percebeu que queria sentir, queria gostar, queria que lhe importasse de verdade... mas não conseguia, não era capaz. Por muito que fechasse os olhos.

E começou a sentir como o vazio voltava a crescer mas já sem doer. Só essa angústia fininha que já conhecia. Que durava o espaço que existe entre o que podia ter sido e a certeza de que não era para ser. E que se ia arrastar devagar até desaparecer outra vez.