- Não sei, acho que nunca vi nenhuma.
As fadas caracterizam-se por duas coisas: as estrelas que lhes saem dos pés ao andar e o ar travesso. Andam quase sempre em bicos dos pés, sem fazer barulho. Quando ninguém as vê, gostam de fazer piruetas em pontas, com os braços arqueados à volta do corpo fino. Normalmente deixam um rasto de luz. São difíceis de detectar porque não estão ao alcance do olhar de todos.
Gostam de se disfarçar de gente normal para pasarem despercebidas nas multidões. Sorrateiras. Seria o adjectivo adequado.
Têm doseadores de felicidade porque normalmente são tão esfuziantes que correm o risco de explodir numa gargalhada. E os danos colaterais não são bonitos. De felicidade ou não, são um cocktail molotov em potência.
Houve casos de fadas que explodiram no meio de gente que ficou contagiada para sempre dessa alegria inebriante. Não é bom. Os humanos precisam chorar.
Sonham. Muito e a todas as horas. Têm termómetros de precisão que medem a exacta necessidade de ilusão na vida de cada um. Põe pequenas pinceladas no dia a dia e esperam que os humanos não se desviem das suas armadilhas. Quase sempre acontece e elas ficam irritadas, vermelhas e com fumo a sair pelas orelhas (por isso também vêm equipadas com doseadores de raiva… as explosões de raiva são piores).
Mas são pacientes e por isso voltam a esticar o fio da ilusão à espera que alguém caia. Os afortunados que não se desviam e tropeçam, sabem que se encontraram com uma fada porque essa noite voltam a sonhar.
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