Conhecemo-nos por acaso, num bar ou numa festa de um amigo. Passámos um pelo outro e só trocámos um olhar. E foi só ao final da noite, enquanto eu procurava o casaco numa montanha de roupa, que te aproximaste. Vinhas com os olhos brilhantes de quem já tinha bebido um copo a mais e um sorriso de garoto de cinco anos que tinha acabado de fazer asneira. Disseste-me uma barbaridade qualquer que, felizmente, não entendi e eu olhei-te com ar de enfado
-'Mas o que é que este quer?'
Deves ter achado graça ao meu humor de ratazana porque te escangalhaste a rir e nem soltaste nenhuma parvoíce do género 'que gira que ficas quando te zangas'. Dei-te cinco segundos e comecei a contar mentalmente
'5,4,...'
- 'Sei que não devia, mas que se lixe, posso pedir-te o número?'
- 'Só para veres que jogo limpo, já te dei o meu'.
-'Serás desgraçado???'
Mas achei-te graça. E dei-te o número
-'Capítulo 7... vamos a ver quanto tempo aguentas'.
Ligaste-me quando já nem me lembrava.
- 'És quem?'
- 'Conhecemo-nos no outro dia, apontei-te o meu telemóvel na mão'.
- 'Ah!’ (O teu telemóvel tinha ido pia abaixo com água e sabão)
Combinámos um café
-‘5, 4, 3.. a ver quanto te aguentas’
E houve um dia em que realmente olhei para ti. Olhei-te a sério. Sem o sarcasmo por detrás
(- 'a ver quanto te aguentas')
e falei-te a sério, sem o tom de desafio que tinha usado até aqui e baixei a guarda. E foi quando me dei conta que me ria, ria muito contigo. Que as minhas pernas tremiam quando te via. Que ficava com a boca seca quando deixávamos de falar e se instalava esse silêncio comprometedor. Que sufocava e quase parava de respirar nas milésimas de segundo em que a tua mão tocava ao de leve, como que sem querer, na minha.
E foi quando percebi que desta vez é que era. Que gostava mesmo de ti.
E agora que já sabes como tudo aconteceu, já podes aparecer na minha vida, ok?
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